A Fina Linha Vermelha da Rememoração, do artista Ícaro Galvão (PE), é uma das duas obras vencedoras da Ciranda Fotográfica na 10ª edição do Pequeno Encontro da Fotografia. A seguir, apresentaremos esse trabalho aqui no site do festival, o que faz parte do prêmio oferecido aos que foram eleitos pelo público, junto com impressões no tamanho A4 em canvas ou papéis formatados, em parceria com o ADI – Atelier de Impressão, e um kit de fotolivros.

A Fina Linha Vermelha da Rememoração é um projeto expositivo individual do artista Ícaro Galvão, com curadoria de Walter Arcela, exibido na antiga Casa de Câmara e Cadeia do Brejo da Madre de Deus entre junho e agosto de 2024 (a exposição foi aprovada em edital público do Governo de Pernambuco). O artista propõe um percurso pelo caminho da memória, passando pela fase que ele chama de acúmulo, seguindo pelo esquecimento e, por último, pela rememoração.
É por meio de técnicas como a cianotipia, apropriação de fotografias de acervo, costura, tecelagem, colagem e assemblagem que Ícaro cria e manipula as imagens fotográficas e desenvolve as obras apresentadas nessa exposição.
O projeto expositivo é composto por 25 obras, todas em técnicas mistas. Além das fotografias de acervo, compradas em antiquários, sebos e mercados de pulgas, o artista utiliza outros materiais coletados nas ruas , como madeiras de reaproveitamento e metais enferrujados.
“Vejo o resgate da madeira de reaproveitamento muito como o resgate de fotografias de desconhecidos. Esses materiais vêm carregados de significados e memórias, foram tirados do seu contexto original, trazem uma bagagem de vivencias e ações do tempo e do humano. Essas madeiras podem ter sido uma cama que alguém dormiu por anos, um baú que guardou muitos segredos ou a porta que protegeu uma família. Agora, esses materiais distantes do que já foram, entram em contato e geram novas ficções, histórias manipuladas com as mãos”, afirma Ícaro Galvão.
“Vivemos numa era onde políticas aceleradoras do ver, ouvir, estar e sentir desnarrativizaram a memória. Tornada um amontoado de dados, imagens e símbolos desgastados, inteiramente desordenados e mal adquiridos, as imagens contemporâneas são um fluxo intermitente, ao que, dada essa condição de aparição, acabam desprovidas de conclusão”, avalia o curador Walter Arcela, que continua em outra parte do texto feito para a exposição: “Curiosamente, a maneira como Ícaro trabalha as imagens as retira da situação de inconclusão e abandono que pairava, através da ênfase que ele dá na instância do esquecimento que lhes é inerente. A dificuldade de apreensão completa por conta das intervenções com rasgos, linhas e demais procedimentos operam não para perpetuar o vivido do plano imagético, mas o ressignificam a cada nova oportunidade de visualização”.
Ícaro Galvão (Recife, Brasil), bacharel em Fotografia pela AESO Barros Melo (2019), é um artista visual que explora memória, esquecimento e a passagem do tempo, utilizando fotografia experimental e técnicas mistas. Sua prática une processos analógicos e históricos, como cianotipia, colagem e tecelagem, para transformar imagens e objetos encontrados em narrativas simbólicas. Influenciado pelo movimento pictorialista, recontextualiza fotografias de família descartadas, madeira envelhecida e vestígios do tempo, criando novos significados. Suas obras envolvem materiais de arquivo e técnicas manuais, adotando um processo mais lento e reflexivo, contrastando com a produção imagética contemporânea. Ao reinventar objetos esquecidos, Ícaro convida à reflexão sobre a fragilidade e a resiliência da memória.




