.:grão | Gabriela Sá, Natal/RN, e Ícaro Moreno, Pedra Azul/MG





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O projeto que dá nome a este livro nasceu de uma residência artística realizada em Pedra Azul, cidade do Vale do Jequitinhonha, Minas Gerais. Nela, a proposta do duo era trabalhar partindo de algumas histórias e mitos que compõem o imaginário dos cidadãos pedrazulenses, a começar pelo próprio nome dessa cidade cujo batismo vinha das grandes jazidas de águas-marinhas encontradas em certo momento de sua história. Propensos a mesclar investigações científicas, históricas e poéticas, os artistas criaram diferentes frentes de ação: incursões em arquivos e depósitos abandonados, entrevistas e expedições às principais formações rochosas da cidade.
Agora, premiado pela Lei Aldir Blanc do Estado de Minas Gerais, o duo compilou as pesquisas realizadas ao longo de dois anos sob a forma de um livro de artista. Nele, trabalha com arquivos apropriados de acervos públicos e familiares, fotografias analógicas e digitais, cianotipia, desenho e frames de vídeo. Como um diário de bordo, apresenta uma narrativa artística a partir de pequenos textos, recursos de edição e de intervenções nos diversos materiais.
Por fim, o livro também apresenta registros das obras “pedras náufragas” (2016) e “devolver à terra” (2018). A primeira foi criada a partir das incursões realizadas na cidade, na qual os artistas coletaram pedras graníticas comuns e sem valor nas principais formações rochosas que circundam o município. Após a coleta, banharam-nas em uma emulsão de cianotipia. Tal processo fotográfico recobre com um azul prussiano a face visível das coisas, e acabou por se tornar uma maneira de reativação simbólica daquele material desimportante. No entanto, tornar azuis as pedras não foi o objetivo final da ação poética do duo, era preciso torná-las disponíveis novamente ao acaso que havia incidido sobre a primeira água-marinha encontrada na cidade de Pedra Azul. “Devolver à terra” (2018) é uma vídeo-performance, na qual a dupla enterra vários montantes das novas pedras azuladas em pontos esparsos e encontrados ao acaso, a partir das circunstâncias do momento. A localização foi salva com auxílio de um GPS e sinalizadas no vídeo. A intenção não era a de promover um encontro entre os moradores e essas novas pedras, sob a égide do falso, mas sim, a de lançar de volta – à essa terra que já foi mar – um punhado de pedras-mensagens náufragas.
Confira outras obras selecionadas para o Espaço do Livro na 7ª edição do Pequeno Encontro da Fotografia.