Mariana David | Salvador, BA

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Este livro começa com a fuga dos meus bisavós turcos-judeus de uma Turquia onde eram uma minoria religiosa e de uma Europa que já engendrava uma política antissemita em seu território. Migraram fugindo da intolerância religiosa e da violência para o Brasil, país do qual nada sabiam. Jamais regressaram à sua terra natal. Minha bisavó morreu à mesma idade que hoje possuo; aos 37 anos sem nunca haver aprendido o português e meu bisavô continuou realizando suas orações num idioma que ninguém compreendia em sua nova terra.

Dünya (pronuncia-se Dûniá) significa Terra em turco. Planeta Terra, terra; nossa morada comum, fracionada violentamente. A quem é permitido andar pela Terra?

Existe atualmente no mundo cerca de setenta muros que separam as pessoas umas das outras. São conhecidos como “muros étnicos”e desenham uma cartografia da exclusão; um mapa feito de pedras, de farpas e de sangue. São inúmeros, ainda, os chamados “campos de detenção”, reservados àqueles que são considerados ilegais; ilegítimos à Terra. As águas do mundo estão repletas de histórias sobre tentativas de romper com a vigilância do movimento. O Mar Mediterrâneo, rota de esperança para muitos, tornou-se um cemitério a céu aberto.

Ainda assim, as pessoas caminham. As pessoas nadam. As pessoas cruzam. Resistência ao controle dos corpos. É impossível parar o movimento da humanidade, assim como é incessante o movimento da natureza. E como pensar a humanidade sem pensar na natureza? “Eu não percebo onde tem alguma coisa que não seja natureza. Tudo é natureza. O cosmos é natureza. Tudo em que eu consigo pensar é natureza”*, nos fala o líder indígena Ailton Krenak, abrindo os nossos olhos para pensarmos a existência através do fluxo que comunga com todas as formas de vida existentes neste nosso mundo.

Nossos movimentos são movimentos da natureza; resistentes, explosivos, insurgentes e, contrariando a perversidade das fronteiras contemporâneas, não desistimos de atravessar.

_{Confira outras obras selecionadas para o Espaço do Livro na 7ª edição do Pequeno Encontro da Fotografia.}