Carolina Drahomiro | Recife, PE












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Cromo-s-somos intitula a proposta expositiva, partindo da pesquisa íntima, na busca pela conexão com o antepassado familiar, separado por três gerações, natural da Ilha de São Miguel – Açores, que migrou para o Nordeste do Brasil no início do Século XX. Assim, nascida em Pernambuco e habitando atualmente a cidade do Porto, há um ano procuro desdobrar, nos âmbitos artísticos, manifestações de pós-memórias, – conceito articulado pela romena Marianne Hirsch, professora de literatura e diretora do Institute for Research on Women and Gender na Columbia University, que trata da memória que não possuímos por vivência, mas que são transmitidas e, por um gatilho particular de interesse, apropriadas por nós.
Se, de certo modo, herdamos memórias, como que elas se manifestam e como que gerações desconhecidas, separadas pelo tempo e pelo espaço, se conectam? Através destas memórias? O reconhecimento das diásporas açorianas permite-nos tomar esta como uma narrativa íntima isolada. Apenas uma partícula de tantas outras histórias que conectam o arquipélago com outras localidades.
Essas questões fundamentam práticas até então ensaiadas por meio da fotografia. Revirados arquivos familiares brasileiros e contatados familiares açorianos antes desconhecidos, a investigação começou a tomar forma em dezembro de 2019, quando realizou-se o que pode-se chamar de levantamento do lugar (físico e afetivo). Numa visita de 5 dias à ilha, buscou-se capturar as paisagens e sensações que conectam a memória permeada do outro lado do Atlântico.
Curiosamente, a aproximação com a prima micaelense que se fez mais presente num profundo ato de troca relacional, investigadora na configuração genética do povo açoriano e chefe do laboratório do Hospital do Divino Espírito Santo de Ponta Delgada, ativou o olhar interdisciplinar para a questão dos deslocamentos do ser – movimentos estes que resultaram na povoação das ilhas. Assim, para além da experiência íntima familiar, foi possível acessar os estudos que têm como diretriz a análise do cromossoma Y do povo açoriano, visto que a configuração genética da população diz muito a respeito dos movimentos migratórios da população masculina.
Este ensaio, passado por uma curadoria de imagens fotográficas para ser apresentado no contexto do Pequeno Encontro da Fotografia, é considerado um meio, integrante de um projeto que ainda se desdobrará em outras manifestações artísticas e em projeto acadêmico no âmbito do curso de mestrado em Arte e Design para o Espaço Público, pela Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto. Assim, pretende-se ativar o olhar para o espaço coletivo numa escala global, questionar a liberdade em migrar, a democratização dos acessos e as conexões afetivas, para além das institucionais, do ser com o espaço.
Confira outras exposições da 7ª edição do Pequeno Encontro da Fotografia.