Rubens Venâncio | Fortaleza, CE











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Iminências constitui-se em uma exploração visual sobre ruínas, esquecimento e tempo, tendo como campo de trabalho três locais do estado do Ceará, cada uma seguindo um percurso criativo por meio do que chamei de “desapropriação” (pertinente ao distrito rural do Baixo das Palmeiras, cidade de Crato – sertão do Cariri), “desaparecimento” (relacionado a cidade abandonada de Cococi, hoje distrito de Tauá – sertão dos Inhamuns) e “miragem” (relacionado à ex-cidade de Jaguaribara – Vale do Jaguaribe).
Aos três locais é comum a ausência e o que chamo de estado de ruína: a população do Baixio está sendo impactada pelas desapropriações impostas pela construção do Cinturão das Águas do Ceará – vários moradores já foram atingidos e muitos outros não sabem quando serão removidos. Em Cococi, cidade que foi abandonada desde a década de 1960, existem atualmente sete habitantes que convivem com o crescimento das ruínas e com a incerteza de até quando as paredes estarão em pé.
Em 2001, a cidade de Jaguaribara foi submersa pelas águas da construção da barragem do açude Castanhão, tendo que remanejar mais de oito mil pessoas que deixaram para trás toda uma história de vida. Em poucos anos o nível da água baixou bruscamente, a ponto do que foi a cidade reaparecer totalmente. Entre os efeitos da seca e da possibilidade de chuvas, não se sabe até quando o local estará visível ou se voltará a estar sob as águas.
O ensaio foi realizado com filme Polaroid grande formato (9 x 11,5 cm, tipo 55), estando ele vencido. Com um resultado visual particular devido ao não funcionamento correto dos químicos e à ação do tempo na superfície do papel fotográfico, predominam borrões e imperfeições na imagem. Ao puxar o lacre para abrir o filme e ver a foto uma parte da imagem é deteriorada, tornando o resultado imprevisível: não sabemos qual parte e qual tamanho da imagem estará corrompida.
Como pensar a ligação entre imagem fotográfica e ruína? Ou ainda, como a segunda é poeticamente transfigurada pela primeira? A partir das três coleções, surgiu a ideia da dobra: o entrelaçamento entre as ruínas da imagem e as ruínas da vida na superfície fotográfica. Pela fotografia surgiu um visível no qual problematizo as situações de desaparecimento e a fotografia enquanto objeto, onde a deterioração da imagem e o acaso estão no centro da construção da proposta. Assim, o estado de ruína não se refere somente às edificações e espaço físico, mas aos dramas vividos, a diluição dos laços, a brusca interferência nos modos de vida.
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