Tomaz Silva | Rio de Janeiro, RJ










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A região central das grandes cidades é marcada por fluxos constantes de pessoas. O movimento contínuo e frenético dos sujeitos pelas ruas e o seu contraste com a arquitetura é meu objeto de pesquisa fotográfica neste trabalho.
O ensaio “O estranho prazer em seguir pessoas pelas ruas” começou em 2017, todas as imagens apresentadas foram produzidas entre 2018 e 2020. Ele surgiu com a minha necessidade de flanar pela cidade onde vivo e pelas que visito. Trabalho no centro do Rio de Janeiro e, munido de minha câmera fotográfica, passeio pelas ruas sem rota traçada. Elejo uma pessoa a ser seguida e, a partir disso, meu mapa é feito de acordo com o trajeto realizado pela pessoa escolhida para seguir e fotografá-la. Realizo todas as imagens quase sempre sem ser notado.
No ensaio, eu apresento imagens digitais criadas a partir de edição computadorizada de diversas capturas que realizo por alguns segundos ou até minutos em que estou em ação. Crio enredos turvos com sobreposições temporais que surgem pelo encadeamento de imagens semelhantes. As possibilidades de tempos se apresentam em múltiplas composições colocando a imagem apresentada se assemelhando a um delírio. Cada imagem traz consigo as indicações de paradas, de tempos suspensos, acelerados ou em movimentos lentos criados pelo tempo/ação da personagem de cada imagem, assim, as pessoas surgem em formas fantasmagóricas nas imagens finais que são apresentadas ao público.
A figura humana e a cidade são mostradas por vezes como vultos, sombras e claridades, como algo fantasmagórico e até apocalíptico e nem sempre decifráveis, subvertendo o que é e o que pode ser real. Há detalhes indecifráveis, indiferentes e que habitam ao mesmo tempo, várias camadas do tempo/imagem.
O tema do trabalho é o diálogo entre a pessoa fotografada e a arquitetura da cidade. Nos locais fotografados eu busco mostrar o descaso com os edifícios históricos. Desejo falar de apagamento da memória que se mostra esvaindo com as imagens dos prédios aparentemente em ruínas causadas pela cadência das múltiplas exposições. Assim como na imagem de Louis Daguerre em 1838, na França, onde a pessoa em cena foi fotografada ainda como um vulto, nas minhas composições, o fotografado é um fantasma do presente em destaque e a arquitetura é o fantasma do passado que insiste em estar de pé. Quero, de alguma forma, destruir o que está decadente e mostrar novas formas imagináveis. Assim, reconstruo a paisagem urbana e trago novos significados para meu próprio entorno.
Confira outras exposições da 7ª edição do Pequeno Encontro da Fotografia.