Serrinha Luz e Cores

Yuri Juatama | Fortaleza, CE

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No dia 21 de abril de 2018, aconteceu um grande apagão que atingiu várias cidades nas regiões Norte e Nordeste do Brasil. Em meio à escuridão, saí de casa com minha câmera e um tripé e produzi a primeira fotografia da minha quebrada. Fiquei surpreso ao ver a repercussão nas redes sociais ao postar a foto. Percebendo essa potencialidade, dei início ao projeto Serrinha Luz e Cores com o intuito de elevar a autoestima das pessoas à minha volta através de uma nova perspectiva imagética. 

Na medida em que as coisas foram acontecendo, pude perceber que esse trabalho não é apenas sobre a minha comunidade; de alguma forma busco retratar uma possível identidade periférica fortalezense. Grande parte da Periferia de Fortaleza é composta por ocupações. Lugares que outrora eram grandes descampados foram sendo apropriados/conquistados pela migração vinda do interior do estado. Esse movimento provocou o surgimento das favelas, que contribuíram para o aumento de famílias de baixa renda que vivem em condição de alta precarização. Além do sonho de uma vida melhor, essas pessoas trouxeram consigo seus costumes ancestrais, sua fé e sua devoção ecoadas em diferentes seguimentos religiosos. É notável o apego com suas memórias, o que provoca intensamente sentimentos de nostalgia e de saudade, mas, também, o sofrimento sutil de um povo que deixou sua terra natal por necessidade. Com o tempo, o trabalho foi amadurecendo e ganhando uma estética própria: são fotografias pictóricas e noturnas que representam uma Serrinha vívida, cheia de histórias e de mistério. 

Por meio da fotografia, busco mostrar nossa realidade com um olhar de respeito e de encantamento. Nessas narrativas visuais, o presente é entrelaçado ao passado, trazendo consigo temporalidade e signos da diáspora sertão-capital. Serrinha Luz e Cores acaba sendo, a meu ver, uma ressignificação da beleza da cidade, pois sempre avistamos Fortaleza pelos lugares turísticos, que, embora tenham sua importância, não dão conta da sua pluralidade geográfica e cultural. Historicamente a periferia é mostrada por um olhar distante que explora sua vulnerabilidade socioeconômica. Acredito que cabe a nós, enquanto comunicadores sociais, causarmos uma ruptura nesse paradigma. Penso o retrato como uma busca constante do “eu” no(a) outro(a). Quando falo sobre a Serrinha, falo também sobre mim. Afinal, para além de um fazedor de imagens, eu sou a própria foto que faço.

Confira outras exposições da 7ª edição do Pequeno Encontro da Fotografia.