Marcelo Soares | Recife, PE
Pretérito do Presente, 2020
Lapsos




| clique nas imagens para ampliar |
Muros




| clique nas imagens para ampliar |
Aterros


| clique nas imagens para ampliar |
Memórias




| clique nas imagens para ampliar |
Além-muros




| clique nas imagens para ampliar |
A exposição fotográfica virtual Lapsos, Aterros e Memórias* é um ensaio fotográfico sobre as memórias do autor Marcelo Soares no bairro de Boa Viagem, local que habita desde 1976, quando o bairro ainda não era ponto de especulação imobiliária intensa na cidade do Recife. Ao se deparar com a transformação completa do território, onde casas, terrenos com árvores e o próprio manguezal desaparecem para servir a um tipo de moradia que nega o espaço público, o fotógrafo resolve partir em busca do único local que ainda guarda semelhança com a época de sua infância: o “Parque Natural Municipal dos Manguezais Josué de Castro”, mais conhecido como Parque dos Manguezais.
Lançada virtualmente no período da pandemia – 08 de abril de 2021 pelo LAB-PE – , a exposição teve sua pesquisa imagética iniciada em 2013, quando o fotógrafo já militava no grupo Direitos Urbanos, formado por ativistas em prol de uma cidade sustentável. A organização da sociedade civil tem como foco principal a luta contra um modelo de cidade calcado no carro individual e shopping centers, privilegiando a especulação imobiliária na beira das águas. Toda esta região, partindo da Zona Sul até o centro expandido do Recife, sofreu mudanças profundas e o Parque dos Manguezais acabou perdendo espaço do seu território para construir a Via Mangue (via expressa de automóveis), impulsionando mais ainda o uso do carro individual como transporte hegemônico e intensificando o processo de gentrificação, principalmente nas comunidades existentes na região do Pina, próximas ao manguezal.
Ao perceber um jogo especulativo entre a Marinha do Brasil e as construtoras para a venda do terreno onde antes ficava a Rádio Pina – instalada pelos EUA no auge da Segunda Guerra Mundial no esforço de hegemonia contra a Alemanha Nazista – , o fotógrafo resolve conhecer a fundo a região classificada como “proibida” pela Marinha, levantando não apenas aspectos de memória da infância, mas questões relacionadas ao desenvolvimento sustentável, meio ambiente e suas implicações em comunidades que sobrevivem da tentativa do uso sustentável da área. Contraditoriamente, o isolamento do manguezal durante o funcionamento da rádio fez surgir uma floresta urbana, preservando aspectos da vegetação nativa da região. Esta preservação persistiu até hoje, mesmo com sua desativação em meados da década de 90, graças às legislações de proteção ambiental criadas pelo marco Constitucional de 1988. É nesse território, ilhado por intenso jogo imobiliário e corredores de transporte, que o fotógrafo e equipe se debruçam para captar imagens e sons do local em um momento de ruptura política intrinsecamente ligada às mudanças comunicacionais.
A exposição trabalha com linguagem híbrida, fazendo uso também de paisagens sonoras atreladas a vídeos e fotos. Os sons não foram captados de forma direta em conjunto com as imagens, mostrando uma intenção de desmontar conceitos de fotografia calcados na “instância da palavra impressa”, onde a palavra tinha primazia sobre as imagens. Ela não foi de toda escanteada, mas restrita à apresentação, ficando as imagens livres de legendas e artifícios explicativos. A intenção aqui é abrir a possibilidade do público interagir de forma livre e criar entendimentos próprios a partir da observação de um imaginário que tenta captar identidades da região, lembranças do autor e impactos ao meio ambiente sem abandonar a ideia do referencial da realidade nas imagens.
A exposição original contém audiodescrição da COM Acessibilidade Comunicacional e está aberta à visitação em www.lapsosaterrosememorias.com.br . Teve o apoio mais que importante da ONG Caranguejo Uça da comunidade Ilha de Deus – nas pessoas de Edson Fly, Hamilton Tenório e Teresa Luz –, que tem feito um trabalho importante de comunicação, militância, vigilância e conscientização das comunidades ribeirinhas do Recife e Região Metropolitana. Além das presenças mais que importante do designer de som Thelmo Cristovam e do webdesigner Jota Bosco.
* Use fones de ouvido para ouvir as paisagens sonoras nos vídeos.
| Confira outras exposições da 8ª edição do Pequeno Encontro da Fotografia |