O Memorial de Fachadas

Maria Vaz| MG

O Memorial de Fachadas é um desdobramento do trabalho que desenvolvi por cerca de sete anos, em; de; com e para Três Ranchos, um pequeno município localizado no estado de Goiás, de onde vem minha família paterna. O trabalho, que começa não com imagens, mas com histórias que escrevi a partir das minhas vagas lembranças do lugar e dos relatos do meu pai, cresce com as visitas anuais que começo a fazer em 2014, 12 anos depois da última vez que estive em Três Ranchos. Lá começo a perseguir os rastros dessas estórias e possíveis imagens que as possa rememorar, apesar de muitas já terem se tornado ruínas e outras terem desaparecido, como o rio que se transformou em lago, os trilhos do trem que foram arrancados, algumas casas que foram destruídas… Diante da preocupação em acessar as memórias de Três Ranchos, recorro aos álbuns de família, colecionando algumas imagens que passam a compor o romance-folhetim que desenvolvo até o ano de 2018, junto com as estórias que escrevi durante todos esses anos e outras fotografias que fiz durante essas visitas ao lugar. Neste trabalho, a ficção e as fotografias trabalham juntas para a representação e criação de estórias e imagens, para a rememoração de lugares depauperados, pessoas mortas ou envelhecidas e “causos” esquecidos. Apesar de ser o folhetim um suporte em que é possível uma alta veiculação e o melhor suporte possível para abrigar as palavras em harmonia com as imagens, um tempo depois senti a necessidade de levar algumas das fotografias dos arquivos familiares para dentro da cidade, pregadas em lambe lambe, em grandes formatos nas fachadas de algumas casas, saltando aos olhos de quem passasse por elas e chamando atenção não apenas para as fotografias, mas para as casas que as abrigavam, casas de tantas histórias, resistentes ao tempo. Assim nasceu o memorial de fachadas, como um protótipo de projeto, uma proposta de um memorial vivo. O projeto, que começou com três fotografias que ilustravam a ideia, nunca chegou a acontecer por razões diversas que impossibilitaram o meu retorno a Três Ranchos nos últimos dois anos. Decidi retomá-lo nos últimos meses e entendi que o projeto já era em si próprio um trabalho. Repensar essas imagens das fachadas das casas sobrepondo-as às fotografias dos álbuns de família já causa um deslocamento tanto desses lugares quanto dessas pessoas, aproximando-as e deixando a cidade (mesmo que a imagem da cidade) também mais viva.

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