projeções 7ª edição

“Conte Sua História”

por Renato Ávila (Belo Horizonte/MG)

Neste trabalho apresento um filme de animação, que serve como base para se questionar a representação da dimensão do tempo na imagem. Neste contexto, se faz interessante, a partir do tempo congelado, conpreender o tempo lógico descrito por Henri Cartier-Bresson. Henri Cartier-Bresson (1908 – 2004) foi um fotografo Francês, considerado o mestre da fotografia espontânea e pioneiro do gênero da fotografia de rua. Ele era autor da magnífica frase que diz: “De todos os meios de expressão, a fotografia é o único que fixa pra sempre o instante preciso e transitório. Nós, fotógrafos, lidamos com coisas que estão continuamente desaparecendo e, uma fez desaparecidas, não há mecanismo no mundo capaz de fazê-las voltar outra vez. Não podemos revelar ou copiar uma memória”.

A pintura e o desenho fizeram parte da sua infância, ele era apaixonado pela forma, suas imagens sempre foram impactantes pela poesia da sua composição. A fotografia entrou na sua vida em 1930, aos 22 anos, quando ele viu em uma revista a foto do húngaro Martin Munkácsi que mostrava três rapazes pretos correndo em direção à água.

Segundo Bresson, aquela imagem o inspirou a parar de pintar e levar a fotografia a sério, segundo ele: “De repente, entendi que uma fotografia pode fixar a eternidade em um instante.” A partir daí ele dedicou muito da sua vida a fotografia moderna e hoje é considerado por muitos como o pai da fotografia.

Em 1952 publica o artigo “O Instante decisivo”, no qual definia que “… a fotografia é um reconhecimento simultâneo, numa fração de segundo, do significado do acontecimento, bem como da precisa organização das formas que dá ao acontecimento sua exata expressão”. No texto, ele conta que a câmera se tornou um prolongamento dos seus olhos, e diz que: “Andava o dia inteiro com o espírito alerta, vagando pelas ruas pra tirar fotos no calor da hora, fotos que fossem como flagrantes delitos. Tinha, sobretudo, o desejo de captar numa única imagem o essencial de uma cena que emergia.”

Enfim, a fotografia é uma fração de segundo que guarda ao mesmo tempo o significado de um fato e a organização das formas visuais que exprimem esse fato. Muitos fotógrafos acreditam que o objetivo principal da fotografia é registrar esse momento único. Porém George Didi-Humberman, filósofo Francês, historiador e crítico de arte, no livro intitulado Diante do Tempo – História da Arte e Anacronismo das Imagens, do ano 2000, a fim de investigar como é realizada a analise de uma obra de arte, questiona quais sentimentos são gerados ao se posicionar diante de uma imagem. Ao desconstruir a perspectiva cronológica do tempo, o autor abre uma outra experiência de pensamento que diz da relação da imagem e do sujeito com o tempo.

O desfecho das colocações do autor está direcionado, ao fato de que a representação de certa obra, será sugestionada por características afetivas e emocionais, envolvido na construção da personalidade e diretamente influenciado pelo momento histórico em que o espectador vive. Sendo assim, pode-se cogitar que uma obra jamais será única e a mesma. Uma vez analisada pelo presente, abre-se espaço para que seja inspirada no olhar de cada pessoa que a olha, em qualquer momento do tempo.

Ao contemplar uma imagem, executada no passado, o que nos salta aos olhos, está predestinado a sofrer influências de características atuais, que por decorrência nunca param de se renovar. O mesmo acontece em uma imagem contemporânea, ela é instigada por aspectos motivados pelo passado, de algo que já foi vivido e registrado na memória. À vista disso, segundo George Didi-Humberman em seu trabalho, a investigação da temporalidade de uma imagem, é apenas reconhecida, quando sua estrutura histórica, não for vista ou analisada por algo cronológico. A imagem deixa de ser algo fixo e eterno e passa a ser vista a partir de uma arqueologia anacrônica, diante do tempo. Semelhante a esse posicionamento, o conceito denominado tempo lógico apresentado por Jacques Lacan (1945), resgata a liberdade a respeito da lógica cronológica e contínua, pelo fato de se tratar do tempo individual do sujeito. Porém, a teoria psicanalítica ironicamente conclui que o sujeito só se liberta com o outro, junto com o outro, numa lógica do coletivo em que o tempo do sujeito não é o um tempo individualizado, mas é o tempo das relações. Este fato é apresentado no artigo de Jacques Lacan O tempo lógico e asserção da certeza antecipada de 1945, segundo ele a constituição do sujeito e suas relações arcaicas são organizadas a partir do tempo lógico, que não é a lógica cronológica, que passa sempre igual, é o tempo do sujeito que tenta alcançar a inscrição temporal do desejo.

Neste trabalho tenho como objetivo Investigar como a imagem se coloca nos contextos artísticos e correlacionar teorias filosóficas que proporcionarão pensar sua relação com o tempo. Na tentativa de responder qual relação entre imagem e tempo, e como esta pode refletir na subjetividade do sujeito, apresento um filme de animação, que teve sua produção no curso de Extensão Universitária Em Fotografia Autoral, Projetos e Ensaios, ofertado pela EBA/UFMG em 2019. Trata-se de um filme com duração de 59’’, retratando os passos da dança de um bailarino.

O filme de animação se constitui em um processo segundo o qual cada fragmento é produzido individualmente. Porém, quando os fotogramas são ligados entre si, há uma ilusão de um movimento contínuo, semelhante ao tempo cronológico, que possibilita pensar o tempo na imagem.

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