“Vigília”

por Rafael Vilarouca (Juazeiro do Norte/CE)

No paradoxo que configura o cotidiano de Juazeiro do Norte, no Cariri Cearense, estão objetos e gestos sagrados e profanos, resquícios de histórias partilhadas, próximas e distantes. Enquanto queima inversamente, a vela vai recompondo o formato original de Padre Cícero, evidenciando a frágil eternidade das relações religiosas e o fluxo das imagens que se faz num eterno continuum. Desde o fabrico às procissões, aos oratórios institucionais e os domésticos, as imagens religiosas mediam e criam um elo entre todas e todos que se encontram nesse mesmo espaço. Como as velas de parafina que derretidas são recolhidas, para recicladas retornarem novamente ao bastão em haste à luz de outras promessas. Os efeitos glitch no vídeo, interferências nas imagens através do código de constituição da imagem, intensificam a fragilidade da própria produção do vídeo como uma forma de queimar ou distorcer também a própria representação, uma metalinguagem de sentidos.

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