2012 | A fotografia de um primeiro encontro

Car@ amig@,

Aqui, no Recife, nosso entendimento abstrato e nossa prática concreta da imagem fotográfica foram condicionados pelo que ficou conhecido, entre os jovens fotógrafos dos anos 90, como tática de guerrilha. O termo foi muito profícuo, ele legitimou belas experiências sensíveis. Frederico Nietzsche adoraria essa postura de resistência na construção criativa desse tipo de imagem, afinal, sua concepção de História previu a luta mundana como modo de expansão das energias vitais. A terminologia é mesmo bastante peculiar, mas ela traduz bem o nosso trabalho como produtores independentes na dita época. O entendimento de que guerrilhávamos não surgiu aleatoriamente, ele foi ensaiado e aprimorado durante uma década de aprendizado fotográfico, totalmente distanciado dos grandes polos de produção de imagem no Brasil.
Entretanto, os limites que experimentamos, ao contrário do que poderia pensar uma lógica banal, só nos impulsionaram adiante, com afinco, firmes e contentes. Através da tal tática de guerrilha, construímos espaços íntimos, de desenvolvimento criativo e afetuoso, a partir dos quais proliferamos em várias ações como as agências de fotografia, as grandes pautas na mídia impressa, a própria assimilação do digital ou mesmo o desenvolvimento do documental. Nunca houve Estado presente, os fomentos nacionais não chegavam pelas bandas de cá. As instituições profissionalizantes praticamente inexistiram. Quando, eventualmente, essas iniciativas formais surgiram, elas estiveram bastante calcadas no ensino da técnica. Mas, esse parco aprendizado nunca bastou. Ele jamais conformou o amplo desejo de viver para a fotografia. Estivemos à margem da imagem, crescemos na periferia dela, até penetrarmos em sua densidade.
História é guerrilha: nela, dentro dela e a partir dela nos formamos em coletivos, em reuniões de amigos, em espaços de trabalho, empreendendo pequenas ações, experimentando, errando, acertando… Sem lamentos, foi bom demais! Faríamos tudo novamente, assumindo a vida e seus desígnios. É mesmo renovador perceber que, com o exercício da potência, aliada à paciência e temperança, ampliamos nossa esfera de atuação, nossas possibilidades de criação. O empreendimento fotográfico sempre esteve na esfera do amor, pois nada indicava que nossos esforços dariam certo, que poderíamos gerir uma vida na fotografia, afinal, a existência é mesmo plena de incertezas. Hoje, as coisas mudaram de configuração. As energias, do corpo e da alma, empreendidas no curso da fotografia, se tornaram alegria: encontramos mais formação, mais ações independentes, mais coletivos e muito mais gente produzindo e pensando sua produção…
O Pequeno Encontro da Fotografia se inscreve nessa História, traz dela o melhor e aposta em novas ideias, conservando, do ato fotográfico, seu mais belo intento: a vocação dialógica que conjuga estética, história e tecnologia. Se, através desse recorte, pudemos propor ações independentes – que aproximam crítica reflexiva, formação lúdica e prática criativa – foi porque o ato de resistência teve um significado positivo em nossas vidas, ele pode agora inspirar novos conhecimentos, novas ações, diante de um novo mundo. Esse ‘pequeno encontro’ surgiu do nosso desejo de compartilhar com você ideias a respeito dessa tecnologia como realidade visual, mas, também, como materialidade discursiva. Estamos te esperando para juntos celebrarmos a fotografia, de 18 a 22 de Setembro, no Centro Histórico de Olinda, em Pernambuco.

Foto: Mateus Sá

 

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